Muito além do cansaço: o que saber sobre a coexistência de insônia e apneia do sono
- Gabriel Atoji Henrique
- 26 de set.
- 2 min de leitura

A insônia e a apneia obstrutiva do sono (AOS) são consideradas as duas principais desordens do
sono na população adulta. Ambas já são reconhecidas individualmente por seu potencial de
prejudicar a saúde global; no entanto, é cada vez mais frequente a observação da ocorrência
simultânea desses transtornos, que caracteriza a chamada insônia comórbida e apneia do sono.
A insônia é definida pela dificuldade persistente (três meses ou mais) para iniciar, manter o sono
e/ou despertar precoce, resultando em sono não reparador, fadiga diurna e prejuízos no humor, na
concentração e na qualidade de vida.
A AOS se caracteriza por episódios recorrentes de obstrução parcial ou completa da via aérea
superior durante o sono, resultando em ronco, pausas respiratórias, fragmentação do sono, queda
na oxigenação do sangue e sintomas diurnos como sonolência, irritabilidade e déficit cognitivo.
Estudos recentes demonstram que a insônia comórbida e apneia do sono afeta entre 18% e 42%
das pessoas com diagnóstico isolado de insônia ou AOS. Em populações de pacientes que
procuram tratamento para insônia ou apneia, essa associação pode chegar a 67%.
A relação entre insônia e AOS é bidirecional: a apneia pode provocar microdespertares e dificultar o
retorno ao sono, perpetuando a insônia; por outro lado, a privação e fragmentação do sono
aumentam a instabilidade respiratória, agravando a apneia.
Pessoas com insônia comórbida e apneia do sono ficam mais expostas ao risco de desenvolver
hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares, diabetes, depressão, ansiedade e fadiga,
apresentam também maior taxa de acidentes e ausências no trabalho quando comparados àqueles
que possuem apenas insônia ou apneia.
Além dos riscos à saúde, pacientes com insônia comórbida e apneia do sono possuem maior
dificuldade em realizar o tratamento das desordens do sono relacionadas a esse diagnóstico. Muitos
pacientes apresentam baixa tolerância ao uso do equipamento de pressão positiva contínua na via
aérea (CPAP - Continuous Positive Airway Pressure), principal tratamento para AOS, devido ao
próprio estado de alerta associado à insônia. Da mesma forma, medicamentos para insônia podem
piorar a AOS, especialmente se forem sedativos potentes.
O tratamento ideal para insônia comórbida e apneia do sono deve ser integrado e multidisciplinar. A
primeira linha de tratamento para a insônia é a terapia cognitivo-comportamental, que envolve
mudanças nos hábitos de sono, técnicas de relaxamento e controle de estímulos. Para AOS, o uso
do CPAP, dispositivos orais e terapias posturais é fundamental.
A ordem ou combinação de intervenções deve ser individualizada, sempre respeitando as
necessidades, preferências e características do paciente. Educação em saúde, acompanhamento
próximo e ajuste dos tratamentos realizados por profissionais especializados em sono são
essenciais para o sucesso terapêutico.
Portanto, reconhecer e tratar a insônia comórbida e apneia do sono é essencial não apenas para
garantir noites de sono reparador, mas também para preservar a saúde física, mental, social e a
produtividade laboral de adultos diagnosticados com essa condição.
Esse texto foi elaborado pela Profa. Dra. Sandra Souza de Queiroz – Fisioterapeuta certificada em sono pela Academia Brasileira do Sono.




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